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sábado, 6 de agosto de 2011

A Galinha
Uma metáfora da condição humana
Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa.
Conseguiu pegar um filhote de águia.
Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas.
Comia milho e ração própria para galinhas.
Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.
Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
- De fato – disse o camponês. É águia.
Mas eu criei como galinha.
Ela não é mas uma águia.
Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não – retrucou o naturalista.
Ela é e será sempre uma águia.
Pois tem um coração de águia.
Este coração a fará um dia voar ás alturas.
- Não, não – insistiu o camponês.
Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova.
O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
- já que você de fato é uma águia,
já que você pertence ao céu e não a terra,
então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista.
Olhava distraidamente ao redor.
Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos.
E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Não – tornou a insistir o naturalista.
Ela é uma águia.
E uma águia será sempre uma águia.
Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
-


Não – respondeu firmemente o naturalista.
Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia.
Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo.
Pegaram a águia, levaram para fora da cidade,
longe das casas dos homens, no alto de uma montanha.
O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor.
Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou.
Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol,
para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias
e ergue-se, soberana, sobre se mesma.
E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto.
Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...
E Aggrey terminou conclamando:
- Irmãos e irmãs, meus compatriotas!
Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus!
Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas.
E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas.
Mas nós somos águias.
Por isso, companheiros e companheiras,
abramos as asas e voemos .
Voemos como as águias.
Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.
(Autor: Leonardo Boff)

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